Resenha

periferias 2 | democracia e periferia

ilustração: Photo: Marcia Farias

A geopolítica do estado nacional e o território Quilombola no séc.XXI

por Jorge Barbosa

| Brasil |

Diosmar M. de Santana Filho1Professor de Geografia, Geógrafo, Mestre em Geografia pela UFBA, Ativista do Movimento Negro. Contato: ptfilho@gmail.com
Paco Editorial, 2018. 260p


A geopolítica do Estado e o território quilombola no século XXI (Paco Editorial, 2018) tem a sua origem na pesquisa de Mestrado em Geografia na Universidade Federal da Bahia (2014) pelo geógrafo Diosmar Santana Filho. Portanto, o livro aqui em destaque é fruto com semente, plantado e cultivado por mãos que manejam saberes e escritas.

A obra de Diosmar Santana Filho é uma vitória da(o)s netas(os) de africanas(os), sobreviventes aos porões do tráfico no Atlântico, que se constituíram nas terras dos povos Tupi e Guarani, para escrever sua Geografia da Diáspora Negra no século XXI.

Pensado e vivido no tempo e espaço do envolvimento intelectual negro com as questões de fundo de uma sociedade visceralmente racista, o trabalho aqui resenhado se origina de um diálogo com os movimentos quilombola, negro, de mulheres negras, dos povos e comunidades tradicionais presentes no território brasileiro e em histórica tensão com o Estado.

Ao adotar a análise do espaço geográfico pelas escalas da política na primeira década do nosso milênio, o autor referencia suas reflexões às obras de Milton Santos, sobretudo quando considera e  reconhece o espaço do Estado como um constructo social de opressão e de reprodução de desigualdades. É justamente neste movimento de alargar horizontes de análise crítica que as lutas socioespaciais da afirmação política e étnica quilombola são acolhidas na prosa de Diosmar Santana.

A geopolítica do Estado e o território quilombola no século XXI está organizada em seis capítulos, dedicados a processos históricos e sociais complexos, envolvendo a geopolítica da população negra na luta contra o racismo e o patrimonialismo, as conquistas efêmeras e as mais permanentes da terra, os movimentos de quilombolagem em seu alcance para retirar seus territórios da invisibilidade e das estratégias de afirmação dos e das quilombolas como sujeito de direitos.

O percurso identificado é um exercício de superação crítica da produção (e reprodução) de leituras e interpretações dominantes no âmbito das ciências humanas e sociais que não assumem integralmente (e até desconsideram) o racismo como estruturante na formação socioespacial brasileira. A contrapelo das análises hegemônicas, o Livro de Diosmar Santana para além da critica às relações racializadas de opressão e exploração em nossa sociedade, também elege a população negra como autor coletivo de uma das maiores conquistas diante do racismo estrutural: o Quilombo!

Aceitemos, então, o convite do autor para pensar o Estado-Nação brasileiro de forma radicalmente transformadora, sobretudo ao retirar os Quilombos de posições subalternas, e assim contribuir para ampliar a visibilidade dos territórios quilombolas em seu sentido pleno de direitos e em suas referências maiores de projeto revolucionário de sociedade.


 

Jorge Barbosa | Brasil |

Diretor do Observatórios e Favelas e professor na Universidade Federal Fluminense

jorge@observatoriodefavelas.org

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