Narrativas

periferias 9 | Justiça e direitos nas migrações Sul-Sul

Habitar

Condições socioespaciais de vida de migrantes nepaleses em Kuala Lumpur

Seng-Guan Yeoh

| Malásia |

outubro de 2023

traduzido por Jemima Alves

Nepaleses, assim como tantos outros trabalhadores migrantes estrangeiros na Malásia, também precisam se adaptar a uma existência bem diferente do rural e familiar de seus países de origem. No sentido heideggeriano, seu "habitar" é transformado, se não for destruído.

Normalmente, seu corpo, alma e imaginação são recalibrados para se adequarem aos novos ritmos de trabalho (horário industrial, longas horas de trabalho) e às condições socioespaciais da vida (congestionadas, segregadas e disciplinadas), ainda que seu trabalho remunerado lhes permita enviar um precioso dinheiro para suas famílias como um símbolo de melhoria econômica.

Foto: Seng-Guan

Um quarto masculino exclusivo de um Nepalês, localizado em uma loja de 4 andares em Shah Alam, Malásia. Esse quarto acomoda 4 pessoas. Alguns dormitórios, em edifícios de uso misto que pertencem às fábricas, podem acomodar até 18 pessoas compartilhando dois banheiros e três ou quatro chuveiros improvisados. Em caras acomodações alugadas, fornecidas por empresas no centro da cidade de Kuala Lumpur, não são raros os relatos de duas pessoas que trabalham em turnos de 12 horas e se revezam compartilhando o mesmo beliche.

Foto: Seng-Guan

O exterior de uma série de edifícios de uso misto, usados como dormitórios para trabalhadores estrangeiros migrantes de fábricas em Muar, Malásia. Esses dormitórios são segregados não apenas por gênero, mas também por nacionalidade. Nos bairros onde a população de trabalhadores estrangeiros é alta, há pequenas lojas de artigos diversos que oferecem uma série de alimentos (como temperos) e bens de consumo do país de origem, empresas de remessas internacionais, restaurantes modestos e vendedores de telefones celulares e esquemas para dados móveis.

Foto: Seng-Guan

Pequenos santuários hindus improvisados são comuns nos dormitórios das fábricas e nas acomodações alugadas onde se encontram trabalhadores migrantes nepaleses. Esse é o único artefato permitido pelos empregadores. Imagens de familiares, celebridades e de sua terra natal (como o majestoso Himalaia) geralmente são proibidas de serem coladas nas paredes. Nessas condições restritivas e espartanas, o celular se torna um dispositivo privado importante não apenas para a comunicação com os membros da família em casa, mas também para nutrir a alma e a imaginação.


 

 

Seng-Guan Yeoh | MALÁSIA |

Antropólogo urbano que faz trabalho de campo na Malásia, nas Filipinas e na Indonésia. É pesquisador no MIDEQ. Ele pesquisa as interseções entre cidades, religião, migração e sociedade civil no Sudeste Asiático. Ele também faz documentários etnográficos.

Possui doutorado pela Universidade de Edimburgo, Escócia. Seng-Guan foi bolsista de pós-doutorado Evans no Departamento de Antropologia Social da Universidade de Cambridge e pesquisador sênior da Fundação Nippon para Intelectuais Públicos Asiáticos. Atualmente é Associado da Cátedra UNESCO em Relações Inter-religiosas e Interculturais, Região Ásia-Pacífico, mantida pelo Professor Emérito Gary Bouma.

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