Artigos

periferias 3 | experiências alternativas

ilustração: Juliana Barbosa

A luta curda por democracia e igualdade de gênero na Síria

Mulheres na linha de frente da libertação e do governo Curdo

Ruken Isik

| Rojava | Curdistão |

julho de 2019

traduzido por Daniel Stefani

As lutas das mulheres Curdas em Rojava, Curdistão - Norte da Síria - se tornaram conhecidas por muitos durante os brutais ataques do Estado Islâmico (E.I - ISIS) contra a cidade de Kobane, no norte da Síria, no 15 de Setembro de 2014. Enquanto homens e mulheres Curdas tentavam defender Kobane da milícia do E.I, com munição limitada e armamento inadequado - comparado ao sofisticado armamento em mãos do E.I - Curdos e Curdas ao redor do mundo tomaram as ruas para fazer ecoar a voz de Rojava e Kobane.

Da batalha para defender Kobane adiante, a mídia ocidental e políticos se atentaram à bravura das mulheres Curdas que combateram o E.I e seu perverso tratamento - que incluiu escravização de mulheres. Sob o comando de Rojda Felat, essa tropa derrotou o E.I em Raqqa, capital do que então era o E.I, em 2018. As combatentes Curdas ingressaram em todas as operações militares, de Raqqa a Bahghouz, último reduto do E.I, até que os derrotassem. Nos territórios libertados, uma das mais impactantes imagens fora aquela em que mulheres rasgavam e queimavam, com contentamento, as burcas pretas, vestimenta que cobre da cabeça aos pés das mulheres, por elas próprias vestida. Mas as conquistas das mulheres Curdas não se limitam a combates militares.

Neste artigo, analiso o Movimento das mulheres Curdas como exemplo de mulheres que se organizam em condições e tempos de conflito, com especial prevalência ao esforço por elas empreendido para garantir igualdade de gênero no pós-conflito. Antes de iniciar essa análise, ainda uma questão ressoa em meus ouvidos: como mulheres Curdas se engajaram na luta contra o E.I em números tão expressivos, e porque estão as mulheres a se colocar na linha de frente dessa disputa? Qual é a história por trás desse expressivo desprendimento da norma, e o que podem defensores(as) da mudança social e do feminismo aprender com Rojava?

A resposta está na organização política, social e militar Curda no Oriente Médio. As mulheres Curdas na Síria se organizam politica e militarmente sob a a égide da "Yekityia Star", organização guarda-chuva do Movimento de Mulheres Curdas na Síria/Rojava, estabelecida desde 2005. De acordo com Ruken Ehmed, membra da Yekityia Star, quando o Regime Sírio baniu  todo tipo de organização social, as mulheres não puderam se organizar - qualquer forma de organização social tinha de ser conduzida, então, sob a tutela do partido Ba'th. Como exemplo, organizavam-se pelos direitos das mulheres sob o nome de "Ittihad Nisaa”, organização pertencente ao partido Ba'ath. Contexto repressivo que era, bem antes que irrompesse o levante popular Sírio, em 2011, muitos(as) políticos(as) foram encarcerados nas infames prisões Sírias, incluindo ativistas Curdas.

Quando em 2012, as forças de Bashar al-Assad se retiraram de Kobane (Ayn Al-Arab, em árabe), a população Curda tomou o controle da cidade. Lutam, desde então, pela instauração de uma nova forma de autogoverno em Rojava -  fato que ganhou uma nova dimensão com o estabelecimento dos cantões autônomos, em janeiro de 2014. Em outubro de 2015, estabeleceu-se a Força Democrática Síria (SDF), como força armada apoiada por coalização liderada pelos EUA, para que se incluísse diferentes grupos étnicos na luta contra o E.I.  No 6 de Setembro de 2015, estabeleceu-se o Conselho Democrático Sírio (SDC) como braço político da SDF; apoiada pelo coalizão liderada pelos EUA na luta contra o E.I, tomou territórios então controlados pelo E.I. A SDC operou em três regiões administrativas: Afrin, Jazera, Eufrates e Raqqa. Tabqa, Manbij, e Deir ez-Zor foram as primeiras regiões em que se estabeleceram. O nome guarda-chuva para regiões administradas pela SDC é Administração Autônoma do Norte e Leste da Síria. 

Jineologi.org

Mulheres Curdas estiveram no fronte dessa luta, e a tomaram para si

As comandantes que entrevistei em 2016 enfatizaram que não apenas lutavam por serem Curdas, mas também por serem mulheres - para elas, a luta também é contra a dominação masculina, tanto na comunidade Curda, como no Oriente Médio como um todo. A conquista da igualdade de gênero é um dos mais importantes aspectos da luta que acontece em Rojava, sem que se encontre qualquer exemplo precedente no Oriente Médio. Em recente entrevista à ONU, Nabuhar Mustafa, mulher Curda integrante do Conselho Consultivo Sírio, disse: "a mentalidade patriarcal está enraizada nas sociedades em geral, particularmente no Oriente Médio; nega às mulheres a participação de forma geral, seja no avanço econômico, processos políticos, na administração do país ou nas posições de tomada de decisão. A participação das mulheres, qual seja o lugar e o tempo, é extremamente importante." (Junho/2019). Completa dizendo que, em um país devastado como a Síria, a participação das mulheres nos processos de paz é, apesar do desdém masculino, um sinal de autoconfiança e que gera esperança para o futuro das mulheres na Síria.

Para mulheres Curdas em Rojava, é importante buscar formas para assegurar que não apenas se instrumentalize as mulheres pela causa nacional durante a revolução, em seguida mandando-as de volta à casa - como visto nas represálias enfrentadas por mulheres após revoluções no Vietnã, Rússia e França. Assim, Mulheres Curdas começaram a se organizar em campos que aumentem o status das mulheres na sociedade local. Por exemplo, a construção de novas instituições educacionais tem sido uma forma de engajamento pela mudança social a longo prazo, não apenas envolvendo mulheres, mas também, os homens. O sistema de co-presidencialismo, composto por um homem e uma mulher, implementado em todas as instituições, em todos os níveis, é um outro importante fator para a mudança social a longo prazo.

Lukman Ahmad

Inspiração intelectual para Rojava (Norte da Síria)

O Movimento de Mulheres Curdas declara que sua visão de sociedade igualitária se baseia no princípio do confederalismo democrático:

"Ao lutarmos pela libertação das mulheres, também disputamos todas as outras formas de opressão, desde que com fundamentos de gênero, etnicidade, classe ou religião. Desafiadas pela ameaça do E.I, acreditamos que nossa maior vitória será construir uma sociedade livre de todas as formas de opressão, onde quem pertença a comunidades étnicas e religiosas possam conviver, em paz e em democracia. Isso não pode ser alcançado por meio da continuação das estruturas existentes de estado-nações, patriarcalismo e capitalismo, os quais, alías, geraram essa crise. Pelo contrário, estamos estabelecendo uma alternativa para os sistemas existentes: "um terceiro caminho" - chamado Confederalismo Democrático. O Confederalismo Democrático se baseia no paradigma de uma sociedade construída pela democracia, ecologia e libertação das mulheres; em coexistência pacífica entre todas etnias e religiões. É um modelo democrático -  direto e radical - para a democracia, organizado por pessoas de movimentos de base, em comunas e assembléias. Esse modelo, baseado no pricípio da auto-gestão e não no centralismo e no Estado-nação monocultural, foi desenvolvido por Abdullah Öcalan, fundador do movimento de libertação Curda. ”(www.kurdistansolidaritynetwork.wordpress.com)

O movimento de base social organizado em Rojava, (Norte da Síra), inspira-se na filosofia do líder Curdo Abdullah Öcalan que, preso, tem sido mantido em regime de prisão solitária na ilha-prisão turca de Imrali, desde  quando capturado no Quênia, em 1998. Enquanto na prisão, a filosofia de Öcalan desenvolveu-se expressivamente, extrapolando a considerável teoria ortodoxa de libertação nacional baseada na tradição marxista-leninista, para uma estrutura muito mais ambiciosa, enraizada em uma concepção renovada de liberdade, democracia e comunidade.

Assim, o objetivo original de estabelecer uma nação socialista independente para o Curdistão converteu-se na autodeterminação que passível de ser alcançada pela democracia radical. Ainda, Öcalan criticou o Movimento pela Liberdade Curda em sua luta para que o estado-nação Curdo se estabelecesse nas bases de um estado-nação resultante da atmosfera política e social do século XX; criticou, também, que o estado-nação fosse então considerado única forma de autodeterminação.

Com o Confederalismo Democrático, esse novo e radical paradigma ideológico, Öcalan argumenta que formar estado-nações não necessariamente traz democratização, uma vez que direitos humanos, liberdade e democracia sofreram sob a ideologia de estado-nações (Jongerden 2017). A esse respeito, são três cantões e centenas de comunas construídas no Norte da Síria como reflexão prática sobre o Confederalismo Democrático, que se organiza com base nas necessidades das pessoas de constituir comunas nos bairros, vilas e cidades. Cada comuna tem um representante participando das assembleias gerais formadas pelas comunas. Como exemplo, se não se resolve um problema pela comuna local, recorre-se a uma assembleia de maior instância em que várias comunas estão representadas.

Sob o sistema de comunas estabelecido no norte da Síria, mulheres também formaram suas próprias comunas para atender às próprias necessidades e problemas, conquistando passos importantes para institucionalizar a igualdade de gênero na sociedade. Assim, enquanto cada comuna é representada pelo TEV-DEM (Movimento para uma Sociedade Democrática), as comunas das mulheres são representadas pela organização guarda-chuva Kongreya Star, como acima mencionado. Cada comuna dispõe de cinco comitês: de saúde, educação, resolução de problemas, comitês econômico e de autodefesa.

 

Academias da Jinealogia

A profunda crítica sobre as origens da dominação claramente tem participação feminista. Como essa crítica tendo sido legitimiada pelas mulheres de Rojava, elas não apenas ingressaram nos escalões armados do YPJ (Unidades de Proteção das Mulheres), mas também abriram Institutos de Jinealogia e centros das Mulheres para a educação de mulheres sobre uma construção da ideologia de uma nação democrática. O  Departamento de Jinealogia, em especial, pertencente à Universidade Qamislo, norte da Síria, não difere dos programas de Estudos das Mulheres no Ocidente, embora apresente uma filosofia diferente. O sistema que existia em Rojava sob o regime Sírio era um em que mulheres estavam amplamente, se não inteiramente - ausentes na economia, educação, defesa e organização social. A Revolução de Rojava desconstrói o sistema antigo e cria alternativas, primordialmente ao estabelecer a presença das mulheres em cada setor que antes estavam ausentes.

Nesses institutos, as mulheres estão construindo um movimento e descolonizando o antigo sistema educacional ao implementar um currículo interseccional que abrace a diversidade do norte da Síria. 

Jineologi.org

O que é a Jinealogia?

 A Jinealogia é uma nova forma de conhecimento prático e teórico que emerge das múltiplas opressões sofridas pelas mulheres Curdas em consequência do nacionalismo, patriarcado, privação econômica, perseguição pelo estado e colonialismoMulheres Curdas criticam os esforços do "feminismo acadêmico", pela perspectiva de que se fizeram em círculos restritos e limitados ao âmbito acadêmico. Ainda, a produção de conhecimento é mantida sob posse do sistema hegemônico, vendida por trabalho remunerado. Argumentam, portanto, que o retorno do trabalho acadêmico tem sido limitado. No livro da Jinealogia, lê-se que: "A Jinealogia será uma forma de conhecimento produzido pelas academias alternativas, em que o conhecimento produzido será direcionado à sociedade como um todo, cujo objetivo, também seja que esse conhecimento incida na vida das pessoas. Assim, estamos falando de novas formas de academias, as quais empregarão linguagem simples e ferramentas de comunicação acessíveis a toda mulher."

Em entrevista, Zozan Sima, instrutora em um dos institutos, disse que as mulheres que não puderam se encontrar nas ondas do feminismo dominante, formaram ondas diferentes e ali continuaram com sua luta - o que, apesar de ter impactado tremendamente a teoria feminista em termos de multiculturalismo, também levou as mulheres a agir sem organização, e prejudicou a possibilidade de um trabalho conjunto e de princípio compartilhado. Houve momentos ocasionais de solidariedade, mas não se desenvolveu um movimento sustentável e institucionalizado de liberdade das mulheres. Houve, inclusive, esforços para evitar organização.

Em vez de esperar por uma teoria feminista que incluisse o Movimento de Mulheres Curdas, objetivando expandir o movimento feminista, essas mulheres consideram necessário desenvolver a Jinealogia, mantendo o nome e dando conta dos aprendizados que a vasta experiência das mulheres Curdas proporcionou, em vez de nomeá-lo Feminismo Curdo. As mulheres curdas buscaram transferir o dinamismo alcançado nas esferas políticas e sociais para o campo acadêmico. E, apesar de não se limitar ao campo acadêmico, a academia é uma importante base para a Jinealogia, que considera pernicioso e problemático que teóricas feministas confinem o trabalho acadêmico em universidades. 

 
Autonomia e Igualdade de Gênero

O círculo eleitoral do Norte da Síria inclui ou reconhece não apenas Curdos, como também Armênios, Siríacos, Árabes, Turcomanos e Yazidis. A ideia da autonomia democrática é diretamente oposta à ideologia no estado-nação, especialmente no Oriente Médio, onde rigorosamente se vincula à ideia de homogeneidade cultural e étnica. O novo sistema em Rojava é mais multicultural, multilíngüe e multireligioso como sistema, destinado a "permitir a participação legal de indivíduos que sejam capazes de se organizar por entre os eixos da etnicidade, religião, gênero e classe social”. É um sistema de autogoverno que rejeita o modelo de administração centralizada. Também é esse o modelo defendido pelo Movimento Curdo na fronteira com a Turquia.

No 06 de Setembro, 2018, um novo modelo de administração foi construído no sistema distrital declarado em 2014: o Conselho Democrático Sírio, cujo objetivo é ser um modelo para a Síria pós-conflito; propõe uma Síria federativa, governada por governos locais e não centralizados, e que incluiria todos os diferentes grupos étnicos e religiosos, ainda defendendo a igualdade de gênero em cada segmento da sociedade. A região conhecida por Rojava (que em Curdo significa Oeste e se refere ao Oeste do Curdistão) foi renomeada Federação Democrática do Norte da Síria, retirando o nome "Rojava" (www.apnews.com, por Zeine Karam).

Amina Omar, Co-presidente do Conselho Democrático Sírio disse, em 2016, que "a formação de uma administração autônoma no norte e leste da Síria foi projeto proposto pelo Conselho Democrático Sírio em terceira conferência, realizada no 16 de julho de 2018, na cidade de al-Taqba (www.hawarnews.com). O Conselho Democrático Sírio é um braço político que governa três regiões autônomas principais: Eufrates, Jezera e Afrin. São regiões não reconhecidas nem pelo governo Sírio ou pela comunidade internacional.

Nas barricadas das Mulheres estabelecidas em cada cidade em Rojava, advogadas defendem que as mulheres combatam a violência, seja ela política, social ou doméstica. Em centros chamados Mala Jinan, "Casa das Mulheres", estabelecidos em 2011, mulheres podem buscar ajuda. A violência contra as mulheres é a primeira frente com as quais as Casas atuam. Também funcionam como centros de mediação e centros de resolução de disputas - caso não se resolvam nessas Casas, apenas então os problemas são conduzidos para as cortes.

Nas entrevistas que conduzi com veteranas do YPJ, Meryem Kobane e Roza Haseke, ambas destacaram a importância de Abdullah Öcalan para a Revolução de Rojava e o espaço que então se abriu às mulheres, remontando ao ano de 1979, quando ele visitou a Síria para a organização política.

Essas mulheres combatentes  preferem se chamar por “unidades de proteção”. E dizem: “A revolução não mudou a vida das mulheres ao passar da noite, mas deu a elas visibilidade; agora a visibilidade das mulheres existe!”. Completam dizendo que, as mulheres combatentes estavam entre os primeiros mártires de Rojava, e que lutaram para proteger sua terra e seu povo. Ainda, para que se reconheça as mulheres como agentes da sociedade, todo o sistema precisa ser mudado. Dizem que é importante reconhecer que mulheres não apenas são combatentes em Rojava, como descreve a mídia Ocidental, mas que estão presentes - em todos os campos.

Para elas, a definição de autoproteção é ampla. Não se limitando a meios de participação na autodefesa militar dos cantões autônomos, a autoproteção implica a proteção de si contra a dominação masculina e a opressão étnica, salvaguardando pensamentos, linguagem e direitos culturais. Para as mulheres de Rojava, tudo isso precisa ser protegido; não protegendo a si, contra você a opressão e o ataque serão fácies. A autoproteção não deve ser compreendida como o movimento de pegar em armas, mas pela organização e luta pelos próprios direitos sociais, políticos e civis, bem como pelo direito de protestar.

 A mudança em curso nas regiões autônomas Curdas da Síria não devem ser consideradas apenas como uma mudança de poderes, do controle de um governo ou etnicidade para outro(a), mas como uma transformação social, que está possibilitando que minorias tenham lugar de fala e participação nas dinâmicas do poder, ao passo que se constrói uma sociedade mais igualitária. Ampliando o espectro regional, há retaliação contra os direitos das mulheres, sendo Rojava, um exemplo promissor de caminho para igualdade de gênero que o Ocidente deveria apoiar. Ao passo que trabalham pela construção de uma sociedade baseada em um compromisso sistêmico pela equidade de gênero, as mulheres em Rojava querem dialogar com a comunidade internacional de organizações de mulheres e compartilhar suas experiências.

 

Mulheres curdas e a guerra

Enquanto imaginam homens como guerreiros, as mulheres são associadas à paz e, na maioria das vezes, representadas como contrárias ao conflito. Agora, terá o papel de "intermediadoras da paz" das mulheres mudado para as Mulheres Curdas, desde que pegaram em armas e ativamente combateram no campo de batalha, tornando-se parte da "violência"?

Quando entrevistei Roza Haseke, comandante Curda do YPJ (Yekineyen Parastina Jin - Unidades de proteção das Mulheres) no Norte da Síria[2], sobre a associação das mulheres com pacifismo e se ela mesmo se via ou não como uma pacifista, ela me respondeu:

"A existência de movimentos de paz me dá força, é muito importante para nós. Elas lutam para acabar com a guerra. Ainda, vejo seus esforços como não sendo suficientes. Pois, exemplificando, guerras estão acontecendo e a questão é como respondemos a isso. Acredito que os esforços delas não sejam excepcionais. As mulheres que combateram no Afeganistão, Líbia e Egito não são diferentes das mulheres que combateram no Curdistão/Rojava (Síria). Nossa dor é a mesma, nossa luta pela paz é também a mesma. Por isso, os esforços pela paz devem ser iguais para todas as pessoas. Quando lutávamos em Kobane, milhões de pessoas ao redor todo o mundo se manifestaram por nós, o que significa que estamos acertando, lutando pela paz, e essas pessoas se juntaram a nós, nos apoiando. Ainda, os esforços pela paz são suficientes contra essa guerra horrível... tenho responsabilidades, não posso viver sem fazer nada. Temos de acabar com essa guerra e nos proteger. E gostaria de fazer mais por essa luta. Tem uma guerra acontecendo na Síria e nos países vizinhos. Tem tanta coisa ainda por fazer. Eu sou uma das companheiras do YPJ, mas não necessariamente nós combatemos e nos mantemos no combate. Nós nos educamos, educamos outras mulheres e pessoas, e nos envolvemos em trabalho social. Aonde quer que precisem de nós, lá estaremos trabalhando. Também fazemos trabalho político." (Isik, 2016)

Ela se identifica não apenas como combatente, mas como educadora, política e assistente social. Sua resposta também sugere que precisamos repensar o conceito de pacifismo em relação às mulheres combatentes Curdas. Ao passo que a localização da guerra tenha mudado, também o significado dos espaços em que as mulheres ocupam mudou. Hoje, o conflito ocorre em muitos espaços diferentes e nos níveis local, nacional e internacional. Mulheres podem e de fato transformam esses espaços. O exemplo das Mães de Mayo, mães de desaparecidos políticos durante a ditadura militar na Argentina, ou as Saturday Mothers na Turquia, mães de Curdos desaparecidos durante os anos 1990, são exemplos de mulheres que tomaram espaços públicos durante ou após guerras.


Original em Inglês
Recebido em Maio/2019

Amnesty International UK, “Syria: Turkish Occupation of Afrin has led to widespread human rights violations-new findings” https://www.amnesty.org.uk/press-releases/syria-turkish-occupation-afrin-has-led-widespread-human-rights-violations-new.

APnews: “Syria’s Kurds declare de-facto federal region in north”. 03.17.2016. www.apnews.com.

Akkaya and Jongerden. 2016. “Kurds and the PKK”. In “The Wiley Blackwell Encyclopedia of Race, Ethinicty, and Nationalism, First Edition” edited by John Stone, Rutledge M. Dennis, Polly S Rizova, Anthony D. Smith, and Xiaoshuo Hou. John Wiley & Sons, ltd.

Hawarnews: “Formation of Autonomous Administration of North, East Syria”. 09.06.2018. www.hawarnews.com

Isik, Ruken. 2016. “Kurdish Women Struggle for a Next System in Rojava”. The Next System. March, 30, 2016. 

Jineoloji’ye Giris (Introduction to Jineoloji). 2015. Diyarbakir: Aram Yayinlari.

Jongerden, Joost 2017. The Kurdistan Workers’ Party (PKK): Radical Democracy and the Right to Self-Determination Beyond the Nation-State. In: The Kurdish Question Revisited / Stansfield, Gareth, Shareef , Mohammed, London : Hurst Publishers - ISBN 9781849045629 - p. 245 – 258.

www.unwomen.org, “Inclusion of Syrian Women in peace efforts is essential for long-lasting peace”

Ruken Isik | |

Pesquisadora pela Universidade de Maryland, Baltimore County, com ênfase em Movimento das Mulheres, Conflito, Guerra e História Oral

ruken1@umbc.edu

Edições Anteriores

Assine nossa newsletter