Editorial

periferias 3 | experiências alternativas

ilustração: Juliana Barbosa

experiências alternativas

julho de 2019

Periferias 3, edição dedicada às Experiências Alternativas das periferias globais, traz 21 contribuições — reunindo 15 países. Publicadas nos quatro idiomas (Português, Inglês, Espanhol e Francês) em que se edita a Revista e em suas seis editorias — Entrevistas, Artigos, Narrativas, Cria da Periferia, Resenha e Convida — pautam processos diferenciados de invenção de subjetividades e de transformações concretas da afirmação de direitos de grupos de sujeitos  de realidades periféricas não-hegemônicas no contemporâneo, tanto em nossas cidades, tão profundamente marcadas pelas desigualdades sociais e distinções corpóreas de direitos, como igualmente nas realidades dos povos indígenas Latino-Americanos,  nas tensões impostas pela privação e coerção de fronteiras e nas disputas simbólicas.

A importância de reconhecer e difundir como as periferias do mundo vêm inventando formas inovadoras e conteúdos desafiadores da habitação à mobilidade urbana,  da organização popular, comunitária e de bairro, do empreendedorismo e economia criativa, da arte e da cultura - é evidente. Esses fazeres da periferia estão em busca da superação de desigualdades econômicas, da mediação de conflitos sociais e de sua afirmação sociopolítica e simbólica. São experiências construídas em cotidianos, muitas vezes, adversos e colocadas em disputa com estruturas hegemônicas, as quais violam, historicamente, os direitos das pessoas das periferias. Visibilizar, comunicar e difundir essas novas representações, metodologias, conceitos e práticas emancipatórias, assim como seus sujeitos, é uma estratégia fundamental para fortalecer as agendas políticas e sobretudo as potências de existências humanas que se fazem presentes com toda a sua força nas Periferias.

As experiências em pauta significam outros possíveis. São tradições e Invenções populares que se encontram para assinalar transformações mobilizadas pelos sujeitos plurais da periferia. Obras coletivas e desafiadoras se apresentam, em nossa Revista, como práticas que trazem em seus horizontes a emancipação humana. Experiências Alternativas celebram potências que se fazem atos de criar, de viver e de afirmar as diferenças de nosso ser-no-mundo.

entrevistas

Periferias 3 entrevista Miguel de Barros, intelectual e ativista de Guiné-Bissau. Considerado personalidade mais influente pela Confederação da Juventude da África Ocidental (CWAY), Miguel compartilha em análise histórica a condição pós-colonial de seu país, resgata o protagonismo histórico feminino e apresenta como  a juventude vem reinventado suas experiências em busca de ampliação, afirmação e respaldo da prática democrática na educação, cultura e economia – em seu país tanto quanto na África lusófona e no Brasil.

Sofia Djama, premiada cineasta Argelina, do mesmo modo põe em questão a condição da Democracia do país, resgatando sua condição de recente independência, guerra civil, e de então reconstrução e de novos caminhos que a mobilização popular pôde enfim retomar neste 2019. Trazendo consigo a história e atual condição do cinema Argelino, desafia categorizações identitárias exclusivamente Árabes, propondo novas experiências de reconhecimento, troca e celebração da cultura e identidade por entre povos e cultura do Magrebe, caminho por entre o qual o Movimento das Mulheres no país - assume nova projeção.

superação de conflitos plurais

Desde Rojava,  norte da Síria, a experiência Curda vem mostrando novos caminhos possíveis de sua luta pela consolidação da prática democrática, tão somente por pautar um modelo de governança baseado no Confederalismo Democrático, igualdade de gênero, sustentabilidade e na Jinealogia - apesar dos inúmeros desafios e adversidades de um contexto militarizado e de guerra que enfrenta a população Curda na região. Em uma guinada ao Rio de Janeiro,  na Favela da Maré, moradoras, moradores e sociedade civil enfrentam as práticas de violações de direitos do Estado nas favelas pautando ações e metodologias que reivindicam o Direito à segurança pública em favela, tendo como eixo central, a participação comunitária. Humanizando o Outro desafia propositivamente as hostilidades das fronteira simbólicas entre Paquistão e India, contruídas desde a Partição de 1947. Encontrar meios para um contato direto entre pessoas, como forma de nutrir uma geração futura mais tolerante, é esperança para moderação da paz na região. Como resistência às imposições coercivas de fronteiras, e forma de afirmação do direito ao esporte e lazer na Palestina, Gaza Surf Club compartilha sua organização por um clube de surfe que amplie as possibilidades e potências da juventude em Gaza.

moradia e mobilidade urbana

No Rio de Janeiro, Mobilidades subversivas ampliam a circulação e o Direito à Cidade em um contexto de confiança territorial por meio de um modal popular inovador, o mototáxi. Desafiando modelos convencionais e ideários de habitação, Mulheres em outras moradias abordam, em experiência em Belo Horizonte, como desejos e demandas subjetivas podem se  concretizar com alternativas de habitação.

ensaio fotográfico

Em parceira com Imagens do Povo e curadoria de Bira Carvalho, PERIFERIAS publica Um Salve às Periferias: a Periferia narrada pelos periféricos, ensaio fotográfico articulado e produzido especialmente para esta edição. Reúne fotógrafos e fotógrafas de Belém, Belo Horizonte, Fortaleza e Rio de Janeiro.

poesia, literatura, arte e cultura

O Wá, Coletivo de mulheres do Cariri cearense, ressignifica os fazeres considerados femininos: bordado, costura, tricô e artes; transformam-nos em arte urbana e inserção do corpo feminino nos espaços públicos, ampliando a cultura de resistência Cariri. A Bakla, a agi: nossos gêneros que não são um, abordama premissa etnolinguística dos gêneros filipinos. Um conto e um poema, originalmente escritos em Tagalo e Kinaray-a, línguas nas Filipinas marcadoras da diferença étnica e da especificidade cultural - integram o ensaio. A Antologia de Poesia – Experiências dos corpos periféricos, reúne três vozes poetas femininas da poesia contemporânea latino-americana. Em Viajando por Periferias Diversas e Criativas de Lisboa, com os bairros Cova da Moura e Talude em questão, processos de ressignificação cultural desafiam referenciais normativos comuns, pelo Direito a uma cidade diversa e plural.

bem viver e bem migrar

Princípio de relação de harmonia e equilíbrio dos povos indígenas para com a natureza, o Bem Viver é discutido a partir de Linguagem criatividade e criticidade, resgate histórico e Autonomia na América Latina; é Desafiado à luz da experiência de Pioyá, Colômbia, frente a seu uso por políticas neoliberias, como forma de proposta para novos caminhos; e, finalmente, encontra-se com o Bem Migrar e MuMi, o Museu Migrante dos Altos de Chiapas, que compartilha práticas de memória e resistência criativa, a qual inclui o cinema participativo com povos indígenas de Chiapas, região em que vivem dez etnias e línguas de povos originários Maias. Em partilha com o Galpão Bela Maré, Museu Migrante parte, ao Rio de Janeiro.

convida

Periferias convida Global Grace, Reino Unido, e La Garganta Poderosa, Argentina, parceiros da UNIperiferias. Caminhos e percursos para equidade de gênero, e organização comunitária villeras, são as pautas tratadas.

empreendedorismo negro e economia criativa

Cria da Periferia desta edição, Adriana Barbosa, fundadora da Feira Preta – São Paulo, discute sua trajetória e protagonismo negro na economia. O Projeto Valor y Cambio, de Porto Rico, traz novas possibilidades para uma moeda comunitária, baseada na representação de personalidades culturais, artísticas e sociais da história da Ilha.

ao companheiro, amigo e mestre Ecio salles

Em memória a Ecio Salles, poeta, escritor e um dos criadores da FLUP –  Festa Literária das Periferias, publicamos nossa homenagem, em Cria da Periferia, editoria proposta por ele em nossa primeira edição. A Ecio Salles, nosso afetuoso agradecimento.

resenha

Carolina Maria de Jesus, Uma Escritora Presente, é a Resenha da edição, pelo biógrafo Tom Farias.

carta da Maré

Periferias republica a “Carta da Maré - Manifesto das Periferias” em cinco novas versões. Em sua  primeira versão em língua  indígena, é com a carta em Nheengatu, Tupi moderno, que a Revista retoma a Carta fundadora da UNIperiferias. Completam as versões da Carta em - Curdo, Bengali, Mandarim e Polonês, as quais se somam às dez versões da Carta já publicadas.

Periferias 4

A Chamada para a edição Periferias 4, “Potência e Desafios da Escola Pública”, encontra-se disponível. Envio de contribuições até setembro/2019, pelo revista@imja.org.br.

conselho editorial e equipe

Apostando em uma composição de conselho editorial bastante diversa, de abrangência internacional e formada por parceiras de diferentes segmentos de organizações de periferia, da sociedade civil, academia, arte/cultura e ativismo, PERIFERIAS ampliou seu conselho. Confira mais em Equipe e Conselho.

uniperiferias nas redes

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agradecimento

Revista Periferias é uma realização de UNIperiferias e Fundação Tide Setubal, que agradecem às autoras e atores que participaram desta edição, como também aos parceiros da Revista: Itaú Social, Fundação Ford, Instituto Unibanco, Promundo, Observatório de Favelas, Redes da Maré, Ação Educativa, Universidade de Dundee, Centro de Estudos Sociais e Universidade de Coimbra, Global Grace e Fundação Henrich Böll.


 

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