Narrativas

periferias 3 | experiências alternativas

foto: Andrew Mcconell

Gaza Surf Club

Pelo direito de surfar plenamente

Ibrahim Arafat

| Palestina |

julho de 2019

traduzido por Daniel Martins

من أجل الحق الكامل في التزلج

São extremamente difíceis as condições a que estão submetidos palestinos e palestinas na Faixa de Gaza. Não há suficiente trabalho, eletricidade, nem água própria para o consumo humano em uma área habitada por mais de dois milhões de pessoas, cuja densidade demográfica é a maior do planeta. Se não bastasse, por conta de todo o bloqueio e ocupação impostos por Israel desde 2006, não temos liberdade para circular, tampouco para sair de Gaza.

São inúmeras as pessoas jovens talentosas e instruídas na Faixa de Gaza, assim como  são tantas as pessoas atletas e artistas que  não se ouve falar fora de Gaza, tamanha é a privação de oportunidades. E esse é exatamente  o caso do Surfe, esporte presente em Gaza desde a década de 1990. Situada na costa oeste do mediterrâneo, com  40 km de faixa litorânea no Mediterrâneo, Gaza possui um porto praticamente inutilizado, com atividades pesqueira e de navegação bastante restritas. Mas já  as ondas do mar,  mais frequentes e fortes durante o inverno e verão - permanecem nossas.

O que acontece para nós com o Surfe é que Israel nos nega o direito de surfar plenamente. Como não dispomos dos equipamentos necessários para fabricar pranchas de surfe em Gaza, importá-las é a saída, não fosse a proibição categórica de Israel, que alega motivos de segurança. Não bastasse com o surfe e quaisquer de seus equipamentos, a restrição se estende aos equipamentos até de natação, inclusive os de inverno,  cuja importação a Gaza permanece proibida. Honestamente, não entendemos quais motivos de segurança justificariam privar a juventude de Gaza de ter pranchas de surfe feitas fibra de vidro, e como surfar pode representar uma ameaça à segurança do Estado.


GAZA Surf Club  resiste justamente a mais essa privação Israelense. Há cerca de dez anos buscamos nos organizar como comunidade da surfe de Gaza que estimula e reune esforços para consolidar e expandir o surfe para palestinos e palestinas de Gaza, afirmando assim, que temos direitos,  inclusive ao esporte e lazer - direito básico de qualquer cidadão. Apesar das rígidas sanções Israelenses, já conseguimos importar algumas dezenas de pranchas, já pudemos nos organizar coletivamente, mas acima de tudo, resistimos cada vez mais conscientes do surfe como prática emancipatória para Gaza. Apesar da imensa dificuldade que é sair de Gaza, consegui viajar ao Havaí, e  um dos planos que tinha era aprender como produzir, conservar e comercializar pranchas; como criar uma escola de surfe e construir um espaço dedicado ao surfe em Gaza, e também conhecer surfistas havaianos que se engajaram em apoiar nosso clube de Surfe, assim como a surfista Carissa Moore e também a fabricante de pranchas e equipamentos de surf Hurley. Consolidaríamos o clube treinando uma geração de surfistas competidores(as) de torneios internacionais.

O conjunto me deixou bastante feliz e cada vez mais disposto a consolidar o Clube de Surfe. Também buscamos diversas organizações de direitos humanos para que nos ajudassem com o problema da importação de pranchas. Todavia, mesmo sem ainda conseguir  permissões Israelenses para o envio de pranchas à Gaza, já que Israel é incapaz  de reconhecer nossos direitos mais elementares, continuamos tentando  e resistindo, sendo que o principal elemento para consolidar o clube  de Gaza é ter as pranchas, que ainda são pouquíssimas e hoje não passam de 25, doadas por Mathew Olson, da organização Explore Corps.

Continuaremos buscando oportunidades para construir o GAZA Surf Club. Pois apesar de tudo, o surfe é um esporte popular em Gaza, e aqui são muitos os jovens e crianças que querem aprender a surfar. Assim que chegará o dia que o faremos - se não hoje, será amanhã - sem que cessem os esforços.

Se tudo que acontece contra Gaza e sua população palestina, como disse, encontra respaldo na opressão Sionista de Israel, que tem como objetivo inclusive apagar a potência criativa da juventude palestina, para assim mostrar ao ocidente que - palestinos e a juventude de Gaza são terroristas, pessoas hostis que odeiam a vida, vivem em guerra e não almejam a paz - nosso contra-argumento é: somos sim jovens que amamos a vida, mas não é a vida de sucessiva humilhação a que queremos, pois simplesmente queremos viver como se vive mundo afora.  Tampouco precisamos discutir se é a paz o que almeja Israel, já que as sucessivas guerras lançadas contra a Faixa de Gaza - falam por si.


Gaza Surf Club se tornou filme documentário dirigido por Philip Gnat e Mickey Yamine e foi lançado em 2017, na Alemanha, estrelando  Ibrahim Arafat, Youssef Abu Ghanen, Sabah Abu Ghanem, Ali Erheem, Mathew Olsen, Moody Alryashi, Rajab Abu Ghanem, Ahmed Abu Hassira e Mohammad Abu Jayab.

Original em Árabe

 

Ibrahim N Arafat | Palestina |

Contato: instagram @ibrahimnihad

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