Memória por Brumadinho
Corpos negros e indígenas soterrados num mar de rejeitos da Vale
Wagner Maia da Costa
| Brasil |
abril de 2021
O ensaio Memória por Brumadinho foi realizado por fotógrafos independentes em Brumadinho e no Rio Paraopeba, Minas Gerais, em janeiro de 2019, três dias após o rompimento da barragem no Córrego do Feijão, antigo reservatório de água e minério de ferro da empresa Vale do Rio Doce — um crime socioambiental, como dizem os próprios moradores de lá. Entre nossos choros e angústias em diversas das situações ali experienciadas e fotografadas, foram muitos os momentos de apenas abaixar a câmera para escutar a fala dos povos locais e originários.
Nas fotos, das mais duras feitas por um fotógrafo que cobre manifestações nas cidades com as do Rio de Janeiro, transparecesse a dificuldade por ter tido que traçar a essas fotos um caminho, em meio a dor sentida por nós fotógrafos, ao vermos, em um único dia, cerca de dezoito corpos sendo retirados do mar de rejeitos de minérios, em Brumadinho.
Conosco moradores e moradoras compartilharam diálogos de resistência, quando também experienciamos um rio manchado por rejeitos de minérios. Ouvimos histórias como a de um ribeirinho, lamentando profundamente o fim de seu único sustento, o Rio Paraopeba. Na foto de capa, o patriarca da tribo Aldeia Nao Xohâ, é fotografado em momento de reflexão sobre a dor em perder seu único rio, sagrado para seus ritos de passagem e para o sustento. Fotografá-los foi repensar a dor, a forma de se fotografar com o respeito ao próximo diante da perda.
RODRIGUES, José Carlos. Tabu do Corpo. Editora Fiocruz. 2006. Rio de Janeiro.
SOULAGES, François. Esthétique de la photographie. Paris: Armand Colin, 2006, cap. 5.
SONTAG, Susan. Ensaio sobre a fotografia. Brasil 1984.
____Diante da dor dos outros. Companhia das Letras. São Paulo. 2003.
Wagner Maia da Costa | Brasil |
Integrante do coletivo fotográfico Fotoguerrilha e doutorando em Ciências Sociais na Puc-Rio.