Memória vive na Vila Autódromo
História de luta e reexistência em favela carioca
Luiza Freire Nasciutti
| Brasil |
abril de 2021
A Prefeitura do Rio de Janeiro tem desenvolvido, desde a década de 90, uma série de projetos urbanos que visam promover a cidade para a atração de investidores, turistas e usuários solventes. Em contrapartida, esse processo acentuou dinâmicas de segregação na cidade, intensificadas a partir de 2009, quando a cidade do Rio de Janeiro foi escolhida para sediar as Olimpíadas de 2016. Tais intervenções urbanas foram acompanhadas pela remoção forçada de diversas favelas e bairros populares. A Vila Autódromo foi enormemente afetada, por estar localizada na área destinada à construção do Parque Olímpico, cuja obra gerou um violento processo de remoção de centenas de famílias, sem que a alternativa à permanência fosse dada.
Apesar de pautar-se em reassentamentos e indenizações, as remoções ocorreram sob constrangimentos, ameaças, violações de direitos, terrorismo psicológico e pressões diversas por parte da Prefeitura. Entretanto, a Vila Autódromo não deixou de se engajar na resistência, exigindo a garantia de seus direitos e denunciando as violências sofridas.
Mesmo com muitos moradores cedendo às negociações, devido ao contexto de inúmeras pressões, outros recusaram as indenizações, reexistindo durante todo processo. Com a proximidade dos Jogos Olímpicos, a Prefeitura apressou-se em finalizar as obras para o megaevento na cidade. Entre o fim de 2015 e início de 2016, houve uma aceleração das remoções de moradias, culminando na descaracterização da comunidade, com a presença maciça de escombros e árvores caídas.
Os primeiros meses de 2016 foram marcados por um clima de grande tensão com perdas significativas para a comunidade, quando edificações simbólicas para a luta foram demolidas, entre elas a sede da Associação de Moradores e o parquinho das crianças.
Em abril do mesmo ano, a pressão e a visibilidade da resistência dos moradores e apoiadores definiu um marco vitorioso para a luta da Vila Autódromo: a conquista da permanência de parte das famílias que resistiram até aquele momento, representando um forte exemplo a outros movimentos de luta popular pelo direito à cidade e à moradia. Entretanto, a luta persiste para que não se apague a memória da comunidade e para que as violências e destruições materiais e simbólicas que marcaram as vidas das tantas famílias removidas não sejam esquecidas.
NASCIUTTI, Luiza Freire. Gênero, cidade e luta: narrativas resistentes das mulheres da Vila Autódromo. Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em Produção Cultural. Universidade Federal Fluminense. Niterói, 2016.
Luiza Freire Nasciutti | Brasil |
Pesquisadora, socióloga, antropóloga e fotógrafa. Mestre em Sociologia pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP/UERJ). Doutoranda em Ciências Sociais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (PPCIS/UERJ). Atua como pesquisadora nos grupos de pesquisa Cultura, Política e Território (UFF) e CIDADES (PPCIS/UERJ).